22/08/2016 às 20h40min - Atualizada em 22/08/2016 às 20h40min

Olimpíada não foi 'desastre épico'; veja balanço da imprensa estrangeira

G1

As expectativas não eram das melhores. Antes dos Jogos Olímpicos, a imprensa estrangeira falava sobre o risco da zika, possíveis problemas de segurança e infraestrutura. Agora, a maioria avalia o evento como bem-sucedido e diz que o Rio ficará com um legado importante, apesar dos gastos com a estrutura esportiva.

Ao falar sobre a cerimônia de encerramento, que aconteceu na noite de domingo (21), Tom McGowan, da rede de TV “CNN”, disse que “foi uma noite para o Rio comemorar. Apesar de preocupações sobre segurança e zika, os Jogos ocorreram em grande parte sem problemas”.

O “Wall Street Journal” afirmou que o Brasil se despede da Olimpíada “orgulhoso e aliviado”. Nelson Rowe escreveu que “para a maior parte, o Brasil gostou do que viu nestes Jogos Olímpicos. Depois de duas semanas desafiadoras, fechando dois anos de más notícias, o país estava pronto neste domingo, finalmente, para ter um pouco de autocongratulação”.

No mesmo jornal, Paul Kiernan disse que “os Jogos Olímpicos de 2016 não foram o desastre épico que muitos temiam. A poluição da água não estragou a competição de vela, infraestruturas construídas às pressas não entraram em colapso e os preparativos de segurança não permitiram um ataque terrorista. Para a maioria dos visitantes, foi um evento esplêndido”. O próximo desafio do Rio, concluiu Kiernan, será evitar o retrocesso.

Para o francês Libération, os jogos terminaram com um “balanço globalmente positivo”. “Prometeram-nos os jogos mais bagunçados da história. Mas nada disso: transportes numerosos e que fluíam bem, locais de provas prontos, condições de alojamento elogiadas pelos atletas.”

“Até as estrelas do golf, que têm padrões de conforto elevados, aproveitaram cada minuto passado na Vila Olímpica, porque eles entenderam que tinham vindo para o Rio por causa do esporte. A única desvantagem: o Exército estava por toda parte, o tempo todo. Mas é um sinal dos tempos”, continuou o Libération.

Para os espanhóis, o transporte não funcionou tão bem assim. Segundo o jornal “El Mundo”, os 17 dias foram desfrutados intensamente pela maioria dos participantes, mas houve “muito sofrimento e uma queixa comum sobre a organização, especialmente sobre o transporte e sobre o acesso a alguns recintos”. 

O jornal disse que vários jornalistas veteranos descreveram o Rio 2016 como “os piores Jogos” que tinham participado, embora o “sentimento predominante tenha sido de entusiasmo em torno dos 10,5 mil atletas de 205 países (e uma delegação de refugiados) que competiram em 306 provas de 42 diferentes esportes”.

Acabou mesmo?

“O quê? Terminou? O que a gente vai fazer agora?”, se perguntavam os jornalistas do “Le Monde” nesta manhã, já em um tom nostálgico. Eles fizeram um texto em primeira pessoa descrevendo as experiências vividas no Rio de Janeiro ao longo das últimas duas semanas.

Os franceses superaram o medo de contrair o vírus da zika. “A gente não viu um só mosquito. Por isso, paramos de passar o repelente todas as manhãs e acabamos sendo picados.”

Irônicos, eles disseram ter observado “o direito trabalhista brasileiro” ao ver os supermercados abertos 24 por dia. Os jornalistas também destacaram não terem visto “muitos brasileiros negros nos estádios cheios”.   

E não foi só o biscoito Globo que levantou polêmica durante os Jogos. “Nós sobrevivemos à fome graças aos biscoitos para cachorros vendidos para humanos nos supermercados cariocas com o nome de “crocantíssimo” pelo preço módico de R$ 2.”

“Obrigada, Rio. A gente reclamou muito, mas estava bom”, concluiu o “Le Monde”.

Legado
O americano “The New York Times” analisou os gastos e os benefícios que a Olimpíada trouxe ao Brasil. Para analistas ouvidos pelo jornal, o saldo positivo é mais significativo do que na Copa, que deixou muitos estádios que pouco serão usados no futuro. Com os Jogos Olímpicos, revitalizações importantes que estavam sendo adiadas há décadas, além da construção de metrô e de habitações a preços acessíveis, puderam ser concretizadas no Rio.

"Os Jogos Olímpicos de 2016 alteraram a cidade de 6 milhões de habitantes, produzindo um porto revitalizado, uma nova linha de metrô e uma onda de projetos municipais, pequenos e grandes, que estavam há muito tempo na lista de desejo de administradores da cidade", afirmou Andrew Jacob.

“Em alguns bairros pobres, os Jogos Olímpicos serviram para acelerar a transformação de clínicas públicas que sofriam com longas esperas e serviço de má qualidade. Em um deles, na Cidade de Deus, um software agiliza o processo de triagem, um ombudsman recebe queixas e um novo aplicativo permite que os supervisores monitorarem quanto tempo os médicos gastam com cada paciente”, diz o NYT.

Astrid Prange, jornalista do alemão "Deutsche Welle", disse que, mesmo que após os Jogos os problemas da cidade permaneçam os mesmos de antes, a cidade mudou: “uma nova autoconfiança tomou conta de seus cidadãos”.

“É o justo orgulho de, sob as circunstâncias mais difíceis, ter realizado o maior evento esportivo do mundo, com mais de 10 mil atletas e 500 mil espectadores. É a satisfação de, após anos dos distúrbios causados pelas grandes obras, reconhecer um novo rosto da cidade. E é a alegria pelo reconhecimento mundial desse ato de força organizatório, esportivo e social”, escreveu ela.

Para a jornalista, os Jogos Olímpicos libertaram o Rio. “Libertaram do difundido complexo de inferioridade brasileiro de que no exterior tudo funcione melhor do que no próprio país.”


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